terça-feira, 12 de junho de 2012

carta curinga

Esse post é para agradecer as visitas que vocês me fazem!
Escolhi um capítulo do livro Filosofia da Arte; a Metafísica da Verdade Revelada Estética da Beleza, do Huberto Rohden, para comentar.
Tilintem!
Obrigada!


                                    Silêncio de Vacuidade e Silêncio de Plenitude

No capítulo IX de seu livro, Filosofia da Arte, Rohden coloca em questão a importância do silêncio e seus sentidos no processo criativo e essencial do homem. As conseqüências que a presença, assim como a ausência do silêncio exercem na vida, a boa e a má utilização disso, que Rohden diz ser a origem da genialidade.
Durante a leitura, surgem alguns termos que caracterizam bem e diferem os homens, a partir do silêncio. O homem primitivo, segundo o autor, é o sujeito que precisa do barulho, ruído para se mostrar vivo, como se fosse uma auto afirmação do existir. Para essa categoria de ser humano, o silêncio não traz benefício algum, a conotação é puramente negativa, enfraquece a matéria, perturba.
Possivelmente, a razão dessa perturbação surge da falta de conhecimento próprio, da ausência da conexão consigo mesmo e também da conexão com o Cosmos, partindo do pressuposto de que somos um universo dentro de outro. O abstrato não é percebido, e então, a necessidade de exteriorizar o estar, o existir, se realiza através dos ruídos. Quanto maior for o desconhecimento próprio, maior será a quantidade de barulho.
Desde o início do texto, Rohden afirma que o silêncio está ligado ao saber, ao ser como um todo, ao processo criativo que, sem o silêncio, torna-se superficial até mesmo à existência. Mas como tornar o silêncio presente num universo tão ruidoso, se cada vez mais nos é exigido agilidade e praticidade? Quase não se tem tempo para o tempo, que dirá para silenciar.
O silêncio pode e deve se tornar um exercício auto construtivo  em qualquer âmbito do ser humano. Quando entendemos e aceitamos o silêncio e sua plenitude, entramos em contato com a essência do que é Ser, deixamos de existir por existir e passamos a descobrir o que somos.
A ausência do som é portátil, pode-se carregar o silêncio e fazer seu uso em qualquer tempo, mesmo que hajam ruídos. Quando o homem percebe essa possibilidade, torna-se, segundo Rohden, semi primitivo, ou seja, mais interessado em ser do que meramente existir e isso o torna mais sábio. O silêncio é abstrato, não tem lugar e está presente em tudo, para quem o percebe. É a Verdade, a essência, o que somos.
O processo de desprendimento dos vícios pelo ego é árduo porque é cômodo, as virtuosidades humanas podem sim, ser apreciadas, porém, não devem assumir importância maior do que realmente têm. O silêncio é a energia que coloca o ser humano em seu eixo essencial, funciona como uma peneira ou uma balança que organiza e qualifica os pensamentos que resultam no que se É.
Sabendo-se disso, o silêncio pleno faz parte do processo criativo de um home livre, sábio, genial.
O que diferencia o silêncio plenitude do silêncio de vacuidade é o manuseio desse valioso instrumento condutor. A ausência do som externo acompanhada da ausência de si mesmo é o vácuo, de modo que, a ausência do som acrescida de pensamentos interiorizados transformam-se em plenitude.
Para utilizar do silêncio pleno, é necessário que se atinja um nível de Consciência Cósmica, é preciso saber que somos seres vulneráveis ao ambiente e a tudo que está presente nele. O saber dessa vulnerabilidade nos torna menos vulneráveis, e só é possível perceber tais coisas com o auxílio do silêncio plenitude, para então, aplicar a luz do ser no existir cotidiano.
Quando o homem busca essa consciência de universo, de peça única e fundamental,da importância de sua visão de mundo para sua própria atuação nele, quando a busca pelo conhecimento deixa de ser uma virtude para se tornar necessidade básica, aí então acontece a plenitude. O silêncio infinito atua aí, onde a consciência permite a conexão do universo como todo com o ser total. Chega a ser  katharsis .
 A essência do homem não se capta através da visão, é abstrata e só é percebida quando se concretiza na ação, mesmo que impura, já contaminada. A partir do momento em que a ideia passa a ser pensada, ela já se contaminou pelas influências externas.
Huberto Rohden deixa claro em seu texto, que, as características do Ser são infinitas e plenas e são representadas através da verdade universal, da sabedoria. O existir é finito, claro, assim como tudo o que se origina dele. O homem precisa do silêncio pleno para se tornar mais sábio, evoluir espiritualmente e conquistar a valiosa consciência de ser uno, para encontrar a verdade sobre si mesmo.
Todo processo criativo é artístico, o próprio ser é arte, quando se aplica o silêncio pleno na produção de qualquer obra de arte, ela se torna mais próxima de Ser verdadeira, mais próxima da consciência de que o que sabemos, diante daquilo que não conhecemos é constrangedor. A valoração do que eu não sei, é mais importante do que me gabar do que sei, está aí a busca, o entendimento e a essência de tudo.
O silêncio como arte na plenitude de ar.

3 comentários:

  1. Ta aí a razão de as escolas orientais darem preferência ao exercício do silêncio. O Silêncio e a Solidão complementam-se e constituem um meio para um encontro metafísico. Como o próprio autor afirma que há uma variação na escala evolutiva do Ser, talvez haja quem "traga" essa tendência e necessidade de se encontrar e há o ser primitivo, com o qual ocorre justamente o contrário. O que sugere a aplicação do Silêncio como princípio de "emancipação moral", ou melhor, emancipação cósmica e expansão da consciência. Como silêncio e arte andam de mãos dadas, a vida sob a perspectiva artística é uma mera questão de "envolvimento integral do Ser com aquilo que se faz", o que necessariamente causa impedimentos para o crescente número de perdidos por aí, sem identidade própria, e, portanto, com a necessidade absurda de se afirmar durante o curso existencial, causando ruídos; o que posteriormente podemos definir como caos temporário, que é o efeito colateral da influência entre todos os Seres, entre eles Seres que se encontraram e Seres "barulhentos"...
    O Silêncio colocando cada estrela em sua órbita, diria um thelemita.

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  2. Sem o silêncio de plenitude e a solidão criativa não se pratica a consciência. Sem consciência o ser não existe e quando não se percebe a própria existência, vive-se assim,poluído.

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  3. A aceitação do vazio e da imensidão silenciosa, transforma um ser humano no verdadeiro sábio, aquele que escuta o pulsar de sua essência, sem ouvir nada.

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