segunda-feira, 5 de março de 2012

aos poucos

Os músculos, traumatizados ainda doem. As veias continuam saltadas e já é outra noite. Não sei se durante o sono o sangue esfriou, sei que dormi pouco e mal. Para um corpo traumatizado, o tempo é mais gentil,somos menos responsáveis. O que pretende o tempo fazer com a minha cabeça? Não vou esguiar de minha própria existência, vou me culpar apenas pelo que sou e pelo que fiz.Os achismos eu deixo para você. Não é o corpo que treme, é o choque do meu mundo com as palavras tuas. Não é a vermelhidão do meu rosto, do meu pescoço, dos meus braços que me faz ser tela, é a cena toda que me fizeram ser parte. É o muro e são as pedras. O que posso fazer, se toda reação que me permito expor, com a maior fragilidade, te faz subir uma sobrancelha, lançar aquele sorriso irônico? Tudo soa como exagero. E aí meu corpo treme, desesperado por compreensão, por qualquer sinceridade. O respeito se perdeu no tom das perguntas e o que ficou no peito, não é bom. O drama perfeito, digno de Hollywood. E não sou eu quem dirige, não sou eu quem atua, não sou eu que sou. O que me permitiram ser, eu recusei. Agora estou sozinha. Não sou vítima, não sou vilã, sou a completa falta de existência. Vou mentir e me destruir aos poucos. Um ataque de nervos, eu sou a louca.

domingo, 4 de março de 2012

Ficção III : perdão, só que ao contrário

O pior dia da minha vida, foi quando descobri o que minha família acha que eu sou.
Eu sou intragável, a decepção personificada, o vício, o descontrole, o desrespeito, a vergonha nos olhos de quem vê. Sou tudo isso, senhores da razão, tudo isso só que ao contrário. Egoísmo é me ter como exemplo aos seus modos e jogar esse fardo nos ombros de quem daria a vida por vocês. Sim, eu sei que fariam o mesmo, mas não sem antes me matar. Renasci numa noite para morrer noutra. Colocaram-me novamente na posição que eu menos gosto de estar. Agora eu sou esse animal raivoso. Agora e outra vez.
Dez anos de culpa pesaram hoje, e me tornaram isso. Sem culpas pelo que não sou, e toda a culpa pelo que faço. Esse animal.
Só que ao contrário.