terça-feira, 24 de janeiro de 2012

ficção II : seguem os minutos contados depois das horas

Ela logo soube aonde estava entrando. Passado o primeiro confronto, palpitações ainda fora do ritmo habitual, aquela noite foi travada. E daquele pontapé, outras pancadas seguiram a impactar a massa cinzenta, um universo inteiro abalado por um suspiro tremido. Quantas veias saltaram do pescoço, da testa, das mãos, quantos nós sufocantes haviam se dado e os desejos interpretados tortuosamente, quantos minutos contados depois das horas, todos devidamente contados. Por debaixo da calça florida, feita de um pano leve e solto, por debaixo de seu diminutivo, dentro era oceano, era o balanço feroz de uma ressaca. Tanta água , tanta água para se afogar, tanta profundeza que a pressão se equivalia a imensidão do escuro molhado. Não podia-se medir, era insulto de uma pequeneza deplorável. Ela não dizia uma palavra formada, eram sílabas, era gorjeios loucos por liberdade, pela esmola, pela sensibilidade ínfima. E respirava forte, seria notada em qualquer ambiente por aquela respiração, por aquela e só. Seguem as pausas, os olhares baixos, o franzir da testa, seguem os minutos contados depois das horas, o silêncio descomunal e o sepulcro sentido daquilo. A cena era linda, a mulher apaixonada é linda.
-O que é que se pode concluir aos vinte e quatro? Ela pensava enquanto buscava mais perguntas.
E logo a resposta sarcástica vinha vomitada, imbecil.

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